BCE decide voltar a manter juros inalterados no patamar dos 4%

Inflação na Zona Euro está cada vez mais perto dos 2%. Esta é a segunda pausa na subida dos juros do BCE desde julho de 2022.
14 dez 2023 min de leitura

As expectativas dos analistas cumpriram-se: o Banco Central Europeu (BCE) decidiu voltar a manter as três taxas de juro diretoras inalteradas na reunião de política monetária realizada esta quinta-feira, dia 14 de dezembro. Esta foi a segunda pausa na subida dos juros desde que o regulador europeu começou a aumentá-los em julho de 2022 para travar a inflação na Zona Euro - a primeira pausa foi decidida na reunião de outubro. Isto quer dizer que as taxas de juro diretoras vão ficar entre 4% e 4,75%, pelo menos, até dia 25 de janeiro de 2024, a data da próxima reunião de política monetária. Já os cortes dos juros para 2024 não estão a ser discutidos no Conselho do BCE.

A inflação na Zona Euro está a dar claros sinais de descida rumo ao objetivo dos 2%, o nível em que é assegurada a estabilidade de preços. Segundo a estimativa rápida do Eurostat, “a inflação anual deverá ser de 2,4% em novembro de 2023, abaixo dos 2,9% em outubro", revelou no passado dia 30 de novembro. E também a inflação subjacente - que não inclui os componentes mais voláteis, como a energia, alimentação, álcool e tabaco - deverá fixar-se nos 3,6% em novembro, recuando face à de 4,2% de outubro.

"As futuras decisões do Conselho do BCE assegurarão que as taxas diretoras serão fixadas em níveis suficientemente restritivos durante o tempo que for necessário".

Esta descida da inflação na Zona Euro em novembro foi uma "surpresa agradável" para os membros do BCE, refletindo a transmissão “vigorosa” da política monetária restritiva às condições de financiamento, o que tem reduzido a procura. E é por isso mesmo que o Conselho do BCE continua a considerar que “as taxas de juro diretoras estão em níveis que, se forem mantidos por um período suficientemente longo, darão um contributo substancial" para que a inflação regresse ao objetivo de médio prazo de 2%, lê-se no comunicado publicado esta quinta-feira.

Foi tendo por base estes principais argumentos que o regulador europeu presidido por Christine Lagarde decidiu voltar a manter as taxas de juro inalteradas pela segunda reunião consecutiva. Recorde-se que foi na reunião de política monetária de outubro que o BCE decidiu pela primeira vez que os juros ficariam inalterados no patamar dos 4%, após um ciclo de dez subidas consecutivas iniciado em julho de 2022.

Na reunião desta quinta-feira, “o BCE não surpreendeu e manteve a mensagem das últimas semanas, confirmando que a sua prioridade é o regresso da inflação ao seu nível-alvo”, comenta Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/crédito habitação em Portugal.

BCE mantém juros adotando a estratégia de outros bancos centrais

Assim, com a nova pausa na subida dos juros decidida esta quinta-feira, as três taxas de juro diretoras mantêm-se nos seguintes valores, pelo menos, até dia 25 de janeiro de 2024, data em que se vai realizar a próxima reunião de política monetária do BCE:

  • Taxa de juro das principais operações de refinanciamento fixa-se nos 4,5%, o valor mais elevado desde maio de 2001;
  • Taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez fica nos 4,75%, um valor igual ao registado em outubro de 2008;
  • Taxa aplicada à facilidade permanente de depósitos situa-se em 4,00%, sendo, ainda assim, o maior valor alguma vez registado.

Esta decisão do BCE vai, assim, ao encontro da postura adotada por outros bancos centrais do mundo. De notar que a Reserva Federal norte-americana (Fed) decidiu voltar a manter os juros de referência entre os 5,25% e 5,5% esta quarta-feira, admitindo avançar com cortes nos juros já em 2024, deixando as taxas entre os 4,5% e 4,75%. E, das 40 reuniões de política monetária realizadas em novembro, 25 bancos centrais optaram também por não mexer nas taxas diretoras, como o Banco de Inglaterra, o Banco Popular da China e o Banco do México, escreve o Expresso.

De qualquer forma, o BCE mantém o seu discurso prudente quanto ao futuro, defendendo, uma vez mais, que as taxas diretoras devem permanecer em "níveis suficientemente restritivos durante o tempo necessário", de forma a que a inflação desça e se mantenha nos 2% - até porque esta última fase de descida da taxa é considerada a “mais difícil”.

E Miguel Cabrita alerta que “embora a inflação se encontre em níveis muito inferiores aos observados há apenas um ano, esta reta final de ajustamento poderá durar mais tempo do que o esperado”.

Perspetivas de inflação na Zona Euro foram revistas em baixa 

"Embora a inflação tenha descido nos últimos meses, é provável que volte a subir temporariamente no curto prazo. De acordo com as projeções macroeconómicas mais recentes para a área do euro elaboradas por especialistas do Eurosistema, a inflação deverá descer gradualmente durante o próximo ano, aproximando‑se depois do objetivo, estabelecido pelo Conselho do BCE, de 2% em 2025", explicam no documento.

As perspetivas da inflação na Zona Euro para os próximos anos foram, ainda assim, revistas em baixa para 2023 e especialmente para 2024:

  • 2023: taxa global deverá fixar-se, em média, nos 5,4% e a inflação subjacente nos 5,0%;
  • 2024: inflação global deverá descer para 2,7%, o mesmo nível da inflação subjacente;
  • 2025: taxa de inflação ficará nos 2,1% (a meta do BCE) e taxa subjacente nos 2,3%;
  • 2026: inflação deverá fixar-se nos 1,9% e a inflação subjacente nos 2,1%;

"A inflação subjacente abrandou de novo. Contudo, as pressões internas sobre os preços permanecem elevadas, devido sobretudo ao forte crescimento dos custos unitários do trabalho", alertou o Conselho do BCE

Já no que diz respeito ao crescimento económico da área euro, os especialistas do Eurosistema projetam que "permanecerá fraco no curto prazo", muito embora haja expectativas de recuperação mais à frente "devido à subida dos rendimentos reais – com as pessoas a beneficiarem da descida da inflação e do aumento dos salários – e à melhoria da procura externa". Assim, espera-se que o crescimento da economia aumente de, em média, 0,6% em 2023 para 0,8% em 2024 e 1,5% em 2025 e 2026.

O que parece é que, para já, os cortes dos juros estão longe de vista do BCE, apesar de os analistas de mercado apostarem em descidas destas taxas já no próximo ano. Christine Lagarde afirmou esta quinta-feira que “não estamos a discutir cortes dos juros". E o Conselho do BCE reitera apenas que as decisões sobre as taxas de juro vão continuar a basear-se na avaliação das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros que forem sendo disponibilizados, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária. E continuará também atento aos fatores de risco que podem mudar o rumo da economia e da inflação na Zona Euro, como é o caso da subida dos salários, resistência na descida de preços pelas empresas e ainda o escalar dos conflitos armados na Ucrânia e em Israel.

“As incertezas geopolíticas, o custo da energia e o seu impacto tanto a nível industrial como de consumo, bem como o elevado nível de pressões laborais e salariais, não parecem dar sinais que nos ajudem a vislumbrar o fim desta fase de juros elevados", indica ainda Miguel Cabrita.

Fonte: Idealista News

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