BCE desce juros diretores em 25 pontos pela 1ª vez em dois anos Novo corte dos juros do BCE em 2024 é incerto. Analistas admitem que o alívio da política monetária será lento. 06 jun 2024 min de leitura É oficial: o Banco Central Europeu (BCE) iniciou o ciclo de flexibilização da sua política monetária esta quinta-feira, dia 6 de junho, ao reduzir as suas três taxas de juro diretoras em 25 pontos base. Aquela que é a primeira descida dos juros de referência do BCE depois de dois anos de aumentos e estabilizações – colocando as taxas no nível mais alto de sempre – terá impacto na vida das famílias, nomeadamente ao nível do crédito habitação e remunerações nos depósitos. Mas há incerteza quando aos novos cortes dos juros do BCE. Tal como antecipavam os analisas e os mercados financeiros, o BCE decidiu mesmo avançar com o primeiro corte dos juros diretores de 25 pontos base na reunião de política monetária desta quinta-feira, dia 6 de junho. Trata-se do primeiro alívio do preço do dinheiro depois de 10 aumentos consecutivos e cinco estabilizações decididas desde julho de 2022 para travar a inflação na área euro. "O Conselho do Banco Central Europeu decidiu reduzir as três taxas de juro diretoras do BCE em 25 pontos base. Com base numa avaliação atualizada das perspetivas de inflação, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária, é agora apropriado moderar o nível de restritividade da política monetária, após as taxas de juro terem sido mantidas constantes durante nove meses", explicam em comunicado. Com este alívio da política monetária há muito anunciado pelo próprio BCE, as três taxas de juro diretoras ficam nos seguintes valores, pelo menos, até dia 18 de julho de 2024, data em que se vai realizar a próxima reunião de política monetária do BCE: Taxa de juro das principais operações de refinanciamento fixa-se nos 4,25% em junho. Até agora esteve nos 4,5%, o nível mais elevado desde maio de 2001; Taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez fica nos 4,50%. Antes estava nos 4,75%, um valor igual ao registado em outubro de 2008; Taxa aplicada à facilidade permanente de depósitos passa a situar-se nos 3,75%, ao invés de 4,00%, o maior valor de sempre. Taxa de refinanciamento do BCE: como está a evoluir? Jul ’22Out ’22Jan ’23Abr ’23Jul ’23Out ’23Jan ’24Abr ’240,00,51,01,52,02,53,03,54,04,55,0% Taxa de juro diretora 4,25% Fonte: BCECriado com Datawrapper Descida da inflação na zona euro motiva corte dos juros do BCE (mas não só) Este corte das taxas diretoras pelo BCE foi apoiado por um conjunto de fatores económicos observados nos últimos trimestres. Um deles prende-se com a tendência de descida da inflação na zona euro (apesar de ter subido ligeiramente para 2,6% em maio, depois de se ter fixado em 2,4% nos dois meses anteriores). "Desde a reunião do Conselho do BCE de setembro de 2023, a inflação desceu mais de 2,5 pontos percentuais e as perspetivas de inflação melhoraram significativamente. A inflação subjacente também abrandou, reforçando os sinais de enfraquecimento das pressões sobre os preços, tendo as expectativas de inflação baixado em todos os horizontes", justifica o BCE na mesma nota. Outro tem que ver com a transmissão da política monetária às economias. "A política monetária manteve as condições de financiamento restritivas. Ao atenuar a procura e manter as expectativas de inflação bem ancoradas, tal deu um contributo importante para a descida da inflação", acrescentam. Mas o regulador europeu alerta que "as pressões internas sobre os preços permanecem fortes, dado que o crescimento dos salários é elevado, sendo provável que a inflação se mantenha acima do objetivo durante grande parte do próximo ano". O aumento dos rendimentos das famílias e o alívio da política monetária poderá ajudar a que haja crescimento na economia europeia, devendo aumentar para 0,9% em 2024, 1,4% em 2025 e 1,6% em 2026. Os especialistas do Eurosistema projetam agora que a inflação global na zona euro seja, em média, de 2,5% em 2024, 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026. E a inflação subjacente deverá situa-se em 2,8% em 2024, 2,2% em 2025 e 2,0% em 2026. "As observações da presidente Lagarde sobre a economia da área do euro foram relativamente optimistas, prevendo-se uma recuperação do crescimento, em parte devido ao aumento dos rendimentos reais. As previsões de inflação do banco também foram aumentadas para 2024 e 2025, o que pode levantar novas dúvidas sobre o ritmo de reduções adicionais das taxas além da reunião deste mês", analisa David Brito, diretor-geral da Ebury Portugal. Inflação na Zona Euro: como evolui? Taxa de inflação homóloga (%) 20202021202220232024012345678910% Zona Euro *Dados de maio são provisórios Fonte: EurostatCriado com Datawrapper Qual será o ritmo de descida dos juros do BCE daqui para a frente? A grande incógnita agora é saber qual vai ser o próximo alívio da política monetária do regulador liderado por Christine Lagarde. Há quem assuma que poderá haver condições para haver uma segunda descida dos juros na reunião de julho, mas também há quem diga que será improvável acontecer tão cedo. O que continua certo é que qualquer decisão do BCE vai ser tomada tendo por base os dados económicos que vão ser conhecidos nos próximos meses, sobretudo a taxa de inflação, tal como frisouo regulador esta quinta-feira. Em comunicado, o Conselho do BCE não deixou muitas pistas quanto à evolução futura dos juros. Reforçou apenas que "manterá as taxas de juro diretoras suficientemente restritivas enquanto for necessário", para atingir o "retorno atempado da inflação ao seu objetivo de médio prazo de 2%". E ainda que "não se compromete previamente com uma trajetória de taxas específica", o que significa que poderá manter os juros inalterados em julho e só voltar a descê-los mais à frente. "O Conselho do BCE não se compromete previamente com uma trajetória de taxas específica" Uma das vozes que coloca a hipótese de haver um novo corte dos juros em julho é a do governador do Banco Central da Grécia, Yannis Stournaras. Em entrevista no início de maio, avançou que “dependendo dos dados da inflação, é provável que haja outro corte em julho. Depois do verão, voltaremos a ver". Na visão do também membro do Conselho do BCE, haverá apenas três cortes nas taxas de juro em 2024. Já Isabel Schnabel, membro da Comissão Executiva do BCE, avisou recentemente que "com base nos dados atuais, um corte de juros em julho não parece justificado". E considerou ainda a trajetória da política monetária além de junho "é muito mais incerta" e os dados mais recentes confirmam que a reta final do processo de desinflação "é a mais difícil", uma vez que a maioria dos choques do lado da oferta que afetaram os preços foram revertidos. Por isso, aponta um segundo possível ajustamento dos juros apenas para o outono. Também o economista-chefe do BCE, Philip Lane, considerou que a instituição deve manter uma política restritiva de taxas de juro este ano, apesar de ter sido favorável à redução de junho. "A magnitude da inflação que ainda se regista nos serviços e na inflação interna significa claramente que temos de ser restritivos este ano, porque temos de garantir que as pressões de custos ainda significativas não se repercutem demasiado nos aumentos de preços", afirmou em entrevista ao Financial Times, publicada na semana passada. É neste contexto que os vários analistas de mercado admitem que há uma incerteza quanto aos novos cortes dos juros do BCE para 2024. "Embora haja um consenso sobre este primeiro corte, o ritmo de cortes futuros está dependente de um animado debate dentro do Conselho", considerou Franck Dixmier, da Allianz Global Investors, citado pela Lusa. “É muito difícil fazer uma previsão sobre a evolução das taxas, porque a mensagem do BCE é clara: a inflação é persistente, os salários cresceram consideravelmente, o nível de emprego é elevado e não há recessão. Tudo isto, juntamente com o facto de o BCE já ter dito que não tem pressa em aliviar a sua política monetária, poderá muito bem significar que o próximo movimento descendente dos juros demorará mais tempo a chegar do que o esperado”, analisa Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal. Também David Brito, da Ebury Portugal, conta ao idealista/news que “existe uma incerteza considerável quanto ao ritmo dos cortes após esta data e os mercados continuam a adiar as suas expetativas quanto ao ritmo dos futuros cortes dos juros". Mas nesta fase mantem "a ideia de novos cortes este ano, em setembro e dezembro. Embora isto esteja longe de ser garantido, a indicação de Lagarde de que o banco tinha confiança no caminho a seguir sugere que está prevista uma maior flexibilização nas próximas reuniões de política económica", diz o responsável pela Ebury Portugal. Claro está que tudo dependerá dos dados económicos, nomeadamente da evolução da inflação. Isto porque se a inflação voltar a surpreender em alta (como em maio), “o BCE poderá adotar um ritmo mais lento de cortes este ano”, explica ainda David Brito. Os analistas do ING dizem que "são as perspetivas para além de junho que estão ainda em aberto. Um corte consecutivo em julho é considerado improvável", acrescentando que os mercados estão a apontar para outra redução em outubro". A Bloomberg Economics vai mais longe e antecipa cortes de 25 pontos base em setembro, outubro e dezembro, escreve o Expresso. Já os analistas de mercado ouvidos pelo Jornal Económico admitem que o BCE vai avançar com mais dois cortes dos juros até ao final do ano, um em setembro e outro em dezembro, ambos de 25 pontos base. Se assim for, os juros diretores da zona euro fecharão 2024 entre 3,25% e 3,75%, recuando do atual intervalo de 4% a 4,5%, um máximo histórico na moeda única. BCE deverá manter decisões da Fed na mira Ao aliviar a sua política monetária em junho, o BCE acabou por cortar os juros primeiro que a Reserva Federal dos EUA (Fed), o que tem implicações para as trocas comerciais e para a inflação. “A queda das taxas pode significar uma revalorização do dólar, caso o Fed não acompanhe a descida, o que significaria importar a inflação das compras em dólares, atrasando ainda mais a queda da inflação na zona euro e, por conseguinte, cortes adicionais nas taxas”, alerta o responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal. “Além disso, parece haver um desfasamento de cerca de seis meses entre os dados da inflação da zona euro e dos EUA, pelo que pode ser prematuro para o BCE declarar vitória sobre a inflação”, acrescenta David Brito, da Ebury, sublinhando, por outro lado, que “a economia da zona euro parece estar a recuperar o seu dinamismo, o que pode também ser um argumento a favor de um ritmo mais lento de cortes este ano”. De notar que os outros bancos centrais como a Reserva Federal norte-americana ou o Banco de Inglaterra ainda não iniciaram o ciclo de cortes nas taxas de juro e só devem fazê-lo mais perto do final do ano, face à resiliência da inflação nos respetivos países. As próximas reuniões do BCE O Conselho do BCE reúne-se aproximadamente de seis em seis semanas. Este é o calendário das próximas reuniões de política monetária do guardião do euro, nas quais vai anunciar as suas decisões sobre as taxas de juro diretoras: 18 de julho de 2024 12 de setembro de 2024 17 de outubro de 2024 12 de dezembro de 2024 Fonte: Idealista News Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado